quinta-feira, 31 de março de 2011

ABGLT tem audiência com o Supremo Tribunal Federal

ABGLT tem audiência com Supremo Tribunal Federal

A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestir e Transexuais- ABGLT teve audiência com Ministro do Supremo Tribuna Federal, Ayries Brito, 28/3/2011, em Brasilia. A audiencia foi para discutir sobre o andamento da  Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental –ADFP 132, instrumento jurídico usado para evitar ou reparar lesão resultante de ato do Poder Público.  A DFP -132O tem o objetivo de  equiparar as uniões entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis .

O Ministro Ayries Brito, recebeu os militantes e contextualizou os avanços no reconhecimento dos direitos da comunidade LGBT em vários países . Disse ainda, que sempre o Poder Judiciário esteve a frente, com decisões judiciais favoráveis a comunidade LGBT. Citou exemplos dos países da Europa e da America Latina, tais como Espanha, Portugal e Argentina, entre outros .  Afirmou que ADFP -132 esta pronta para ir ao plenário para votação. E seu parecer já estar feito.

Para o Carlos Magno, secretário de comunicação da ABGLT, o encontro com o Ministro Ayres Brito deve ser comemorado pelo movimento social LGBT . “Este encontro demonstra o quanto conseguimos pauta as nossas questões. Hoje temos que recorrer a justiça para garantir a nossa cidadania. Acredito que avançaremos mais no judiciário, do que no legislativo”, afirma Magno.

Estiveram presentes na audiência os/as seguintes diretores/as e/ou coordenadores/as da ABGLT: Toni Reis, presidente (do estado do Paraná); Yone Lindgren, vice-presidente (Rio de Janeiro); Carlos Magno, secretário de comunicação (Minas Gerais); Irina Bacci, secretária-geral (São Paulo); Fernando Rodrigues, secretário da região nordeste (Pernambuco); Luanna Marley (Ceará); Victor Wolf (Rio de Janeiro); Guilhermina Cunha (Santa Catarina) e o colaborador jurídico da ABGLT, Roberto Gonçale.



segunda-feira, 21 de março de 2011

E a cultura gay, é revolucionária?

E a cultura gay, é revolucionária?

Por Carlos Magno
Acessando os sites de relacionamentos, muito usados atualmente pelos gays, percebi certa similaridade nos anúncios. Na maioria dos comunicados dos que buscam um parceiro para um sexo casual ou, ainda um relacionamento, há sempre, de início, uma apresentação seguida por uma exigência. A semelhança na grande maioria é: sou discreto e não curto afeminados. Há alguns casos em que se afirma: não freqüento o “meio”. Neste caso, “meio” seria locais GLS, e a frase um tributo positivo para alcançarem os seus objetivos.
Fui buscar o significado da palavra discreto. Nos dicionários encontrei sendo sinônimo de reservado e prudente. Certamente, segundo alguns estudiosos da linguagem, a etimologia da palavra não é a única forma de comunicação que uma palavra adquire. Socialmente as palavras passam por ressignificações.  No caso da cultura LGBT, ouso usar o termo cultura e não “subcultura”, como alguns antropólogos e a comunidade acadêmica em geral afirmam, a palavra discreto seria sinônimo de masculinidade. Isto é, atributos do macho.
Nos anos 60 e 70, início do movimento LGBT no Brasil, a comunidade homossexual, que sofreu uma influência de movimento gay americano, refletia uma conjuntura política, social e cultural de contestação. Valores sociais, políticos e sexuais eram questionados.  Por exemplo, o movimento hippie tinha o slogan: faça amor, não faça guerra.  O movimento feminista tinha ações de queimar o sutiã em praça pública. A revolução era o ar que os jovens e estudantes respiravam. Muitos buscavam um novo modelo de sociedade.
É num clima de mudança radical que o movimento LGBT, naquela época chamado de movimento gay, era conhecido como subversivo, pois não somente saía da norma sobre a sexualidade, mas constituía um movimento aberto, debochado, orgulhoso, colorido e escandaloso. Atitudes como beijar, abraçar e andar de mãos dadas pelas ruas eram seguidas por reivindicações pelo fim da discriminação e da opressão. Os LGBT eram vanguarda. Criava-se também uma cultura alternativa ao padrão dos homens e mulheres.
Passaram-se ao menos 30 anos do surgimento do movimento LGBT brasileiro. A luta pelos direitos civis LGBT cresceu e conseguimos alguns avanços importantes. As conquistas de hoje são fruto da luta de vários militantes do passado. Os pioneiros merecem todo o nosso reconhecimento e respeito. Mas nem tudo são flores, como dizia o poeta.  Às vezes, algumas estratégias de combate ao estigma, à discriminação e à exclusão podem alcançar um objetivo diferente do que se deseja.
Por muito tempo o movimento LGBT combateu a referência simbólica da palavra “viado”, aos homossexuais masculinos, e “sapatão”, as homossexuais femininas. As palavras eram depreciativas, estigmatizantes e só reforçavam o preconceito homofóbico. Esta foi uma postura muito freqüente do movimento LGBT dos anos 70, do século XX. Em minha opinião eles usaram a estratégia correta. Mas, me parece que a comunidade LGBT não entendeu o enredo do samba. Ela assimilou o contrário do que queriam os militantes do passado e adotaram o conservadorismo no lugar da liberdade e do respeito.
A luta contra o estigma pode ter criado uma armadilha conservadora com vários nuances. Para mim uma delas foi a diluição da identidade homossexual. Muitos não querem, temem e odeiam ser reconhecidos como homossexuais. A outra, não menos pior, foi o  aprisionamento da definição de gênero, ou seja, no que é masculino e feminino. O homossexual masculino tem que ser mais viril e masculinizado que o homem heterossexual e as lésbicas mais femininas do que as mulheres heterossexuais. Este é o modelo aceito e valorizado na cultura LGBT atual. E sem concessões!
Mas este modelo, além de trazer a “hipermasculização” dos gays e “hiperfeminização” das lésbicas, aponta para uma grande fragilidade das relações, mesmo que sejam entre indivíduos pertencentes aos grupos de amigos LGBT. Trazem consigo uma cultura de lazer, de festa, de consumo, da estética juvenil e da “corpolatria”, ou seja, a valorização exacerbada do corpo. O homossexual hoje lança moda, dita como o corpo deve ser e como os gays devem se comportar. E junto, dita um consumo.
Os comportamentos que tenho observado nos sites de relacionamentos me fazem acreditar que estamos na contramão de uma sociedade de respeito à diversidade, e daquela em que todos têm os direitos de fazer parte dela. Contraditoriamente, temos visto que os heterossexuais redefiniram as suas formas de masculinidade, pois hoje se tornou comum ver homens cozinhando, dividindo trabalhos domésticos com a esposa, assumindo funções antes construídas para o feminino.
O que temos visto na comunidade gay é a ditadura dos papéis de gênero. Para o gay, quanto mais masculinizado, melhor. Esta nova cultura é motivo de reflexão. A luta pela liberdade, pelo respeito à diversidade e por uma sociedade democrática, bandeira do movimento LGBT atual, talvez esteja bem distante da nossa comunidade. Quem sabe devemos repetir o passado?  Buscar ações mais irreverentes e debochadas para a visibilidade de uma parte da comunidade LGBT que está sendo invisibilizada, oprimida e excluída? Busquemos a cultura realmente revolucionária e libertária.

·         Jornalista Profissional
·         Secretário de Comunicação da ABGLT – Associação Brasileira das Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais
·         Militante do CELLOS-MG – Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais.